No próximo dia 30 de agosto é celebrado o Dia nacional de Conscientização da Esclerose Múltipla, doença neurológica crônica de característica autoimune que desencadeia um processo inflamatório que compromete o sistema nervoso central. Ainda sem causa definida e, portanto, sem cura possível, a esclerose múltipla tem evolução progressiva em que os tratamentos visam atenuar os sintomas para a manutenção da qualidade de vida dos pacientes.

“Ela age agredindo o sistema imunológico comprometendo o sistema nervoso, a partir da lesão da bainha  mielina, que é a capa que reveste os filamentos nervosos, desencadeando uma série de disfunções progressivamente incapacitantes com o passar dos anos”, explica o neurocirurgião funcional pela UNIFESP e Centro de Dor do Hospital 9 de Julho, Dr. Claudio Fernandes Corrêa.

Inicialmente a esclerose manifesta sintomas sutis, geralmente transitórios, que podem durar uma semana e parar, sendo que os mais prevalentes nos dois primeiros anos são sensitivos, de turvação visual e eventual distúrbio no controle da urina. Em seguida, eles evoluem com disfunções motoras e cerebelares que refletem em fraqueza, cansaço formigamento das pernas, às vezes apenas de um lado do corpo, diplopia (visão dupla) ou até mesmo perda da visão, desequilíbrio, tremor e descontrole de esfíncter anal e vesical.

A doença acomete pessoas entre 20 e 40 anos na média, com predominância feminina. A incidência mundial aponta mudanças em diferentes regiões geográficas e diferentes etnias, com taxas de prevalência variando de 12 por 100.000 no Japão e mais de 100 por 100.000 na Europa e América do Norte. No Brasil estima-se 40 mil pessoas tenha esclerose múltipla.

Tratamentos da esclerose múltipla – as terapias existentes têm como objetivo abreviar a fase aguda da doença na qual apareceram os sintomas, e espaçar cada vez mais o intervalo entre um surto e outro. No primeiro caso, os corticosteroides são drogas úteis para reduzir a intensidade das crises. No segundo, imunossupressores e imunomoduladores ajudam a espaçar os episódios de recorrência e o impacto negativo que provocam na vida dos pacientes, lembrando ser impossível eliminar completamente as manifestações com os tratamentos atuais. É recomendável manter a prática de exercícios, fisioterapia motora e a associação de medicamentos no controle esfincteriano quando o mesmo passa a ficar comprometido.

Especificamente sobre o sintoma da espasticidade, distúrbio de controle muscular caracterizado por músculos tensos ou rígidos, que incapacitam o controle muscular, com reflexos hiperativos, indica-se fisioterapia de reabilitação somada à medicação, bem como procedimentos neurocirúrgicos em estágios mais avançados e limitantes.

Os procedimentos cirúrgicos podem ser neuroablativos como, por exemplo, a rizotomia dorsal seletiva, onde o neurocirurgião isola cuidadosamente os nervos que transferem as mensagens de contração para o músculo afetado, cortando as fibras mais anormais para aliviar a espasticidade enquanto preserva outras funções motoras e sensitivas; e neuroaumentativos como, por exemplo, a terapia intratecal (injetável) de relaxante muscular através de bombas eletrônicas de infusão. Em casos de espasticidade segmentar, a injeção de toxina botulínica tem se mostrado eficaz.

Um particular sintoma que afeta 10% dos portadores de EM é a neuralgia do nervo trigêmeo que pode ser tratado clinicamente e ou cirurgicamente. No procedimento operatório o resultado é o alívio da dor facial com procedimento realizado ambulatorialmente, sem necessidade de incisões e com apenas algumas horas de internação.