Baseada na desativação de determinadas fibras das raízes nervosas, a rizotomia pode atuar no alívio da dor crônica e no controle da espasticidade segmentar

Qualquer condição de grande desconforto que atinge nosso corpo no longo prazo, ou seja, de forma crônica, impacta em nossa funcionalidade e qualidade de vida. A dor física, assim como alguns quadros de disfunção motora, estão entre alguns exemplos desta natureza. 

São condições que comumente se dão por doenças também crônicas, incuráveis e progressivas. Nesses casos, o tratamento passa a ser, em sua essência, para o controle dos sintomas debilitantes.

Há consenso de que são casos que requerem uma gama de intervenções de natureza medicamentosa, de reabilitação física e até psicológica, que visa dar ao paciente um suporte o mais integral possível. 

No entanto, quando o conjunto das indicações convencionais não surtem mais o efeito desejado, podem ser indicados procedimentos operatórios, dentre eles a rizotomia, método ablativo e minimamente invasivo de tratamento, com resultados de melhora em até 80% dos sintomas.

O termo rizotomia significa secção da raiz nervosa, ou seja, o corte de uma ramificação de um nervo. Assim, o procedimento se baseia na desativação de fibras sensoriais ou motoras de raízes nervosas a partir da indução de uma lesão controlada nessas estruturas, interrompendo a transmissão dos sinais de dor ou estímulos motores espásticos (que tornam os membros excessivamente rígidos e sem capacidade de movimentação pelo indivíduo).

 

Como o procedimento da rizotomia funciona?

Existem diferentes tipos de rizotomia que se diferenciam a partir da técnica usada e das especificidades de cada caso. De modo geral, elas podem ser descritas da seguinte forma:

  • Rizotomia química, na qual os responsáveis pela desativação nervosa são substâncias injetadas nas raízes, como o fenol ou álcool absoluto.
  • Rizotomia cirúrgica, menos usada atualmente, porque consiste no corte da raiz nervosa em um procedimento cirúrgico aberto e, consequentemente, mais invasivo.
  • Rizotomia por criocoagulação, técnica que inativa as raízes nervosas com a ação do frio, a partir da inserção de substâncias que provocam rápido resfriamento no local.
  • Rizotomia por radiofrequência baseada na inserção de um eletrodo que emite ondas de radiofrequência que interrompem as atividades das fibras nervosas envolvidas na transmissão da dor. Atualmente, é o tipo mais comum.

 

Rizotomia no tratamento de dor e distúrbios do movimento

No contexto da dor, a rizotomia tem indicação em pacientes com quadros severos de lombalgia, neuropatias como a diabética ou pós-herpética, bem como na oncologia, especialmente submetidos a tratamentos quimioterápicos e radioterápicos com sequelas na estrutura nervosa.   

No âmbito dos distúrbios do movimento ou distúrbios motores, a espasticidade é um sintoma que se apresenta como consequência de lesão medular, da ocorrência do AVC (popular derrame), distonias, paralisia cerebral, entre outros. Nesses pacientes, os membros passam a desenvolver um quadro de rigidez e atrofia segmentar contínua, que com o tempo e sem o devido tratamento, passam a não conseguir abrirem mais as mãos, braços, pernas e pés. É um quadro que também acaba por gerar dor intensa pela hiper rigidez desses membros.

Porém, vale lembrar que existem tratamentos mais adequados para a espasticidade generalizada, desta vez, não ablativos. Alguns exemplos são a estimulação cerebral profunda (DBS) — neuromodulação das regiões do encéfalo ligadas aos movimentos, por meio de implante de eletrodos na cabeça — ou o implante de bomba de infusão de medicamento anti-espásticos, que libera a substância diretamente no corpo de maneira periódica.

 

Dúvidas comuns sobre a rizotomia   

Ao eliminar a dor, a rizotomia também interrompe outras sensações?

Não, a rizotomia não compromete a percepção de outros estímulos sensitivos do local. Ela visa atingir apenas as fibras nervosas responsáveis pela síndrome dolorosa ou a espasticidade.

A dor pode voltar após a realização da rizotomia?

Após alguns meses ou anos, em cerca de 35% dos casos o nervo lesionado pode se regenerar levando a volta da dor. Porém, geralmente, ela é mais branda do que a inicial. No entanto, os pacientes que aderem às terapias complementares como pilates e fisioterapia, podem ter os efeitos da rizotomia prolongados.

Os planos de saúde cobrem a rizotomia? 

Sim, todos os convênios médicos devem disponibilizar a rizotomia para seus conveniados, conforme a prescrição do médico responsável. Devido a ela fazer parte do rol de procedimentos indispensáveis da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula os planos privados de saúde.

 

Todas essas informações e outras mais estão detalhadas no episódio Neuro em Dia #19: Rizotomia para controle de distúrbios do movimento e dores crônicas. Está disponível no Spotify e nos outros principais agregadores de áudio.