O dia 11 de abril é marcado pela comemoração do Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, distúrbio neurodegenerativo que acomete cerca de 1% da população do mundo e causa tremores, lentidão dos movimentos, rigidez muscular, mudanças na entonação da voz, dores, entre outros sintomas. Embora sem cura, o tratamento, que visa a diminuição dos sintomas, pode ser potencializado com diagnóstico precoce, retardando o agravamento da condição e aumentando a qualidade de vida do paciente.

 

Os novos horizontes para o diagnóstico da doença de Parkinson

A data temática foi instituída em 1989, por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), para estimular o debate sobre a condição, as formas de diagnosticá-la e tratá-la, além de esclarecer incertezas que cercam o tema, para não só melhorar a qualidade de vida dos pacientes já diagnosticados, mas também favorecer o diagnóstico precoce.

Nos últimos anos foram desenvolvidas múltiplas pesquisas científicas que se apropriam do avanço de tecnologias como inteligência artificial e robótica para buscar caminhos relevantes de novas perspectivas para o diagnóstico da doença de Parkinson.

Alguns exemplos dessas iniciativas incluem:

Uso de inteligência artificial para monitoramento de movimentos

A pesquisa realizada por membros do Laboratório de Pesquisa do Movimento da Universidade Estadual Paulista (UNESP), usou uma inteligência artificial para auxiliar na identificação dos casos da doença com análise dos dados de tempo em relação deslocamento da pessoa ao caminhar. A marcha é um dos fatores comprometidos em pacientes com a doença de Parkinson, que pode surgir antes dos demais sintomas fisiológicos.

Identificação de proteína do intestino relacionada à doença de Parkinson

Partindo para uma pesquisa internacional, em estudo publicado pela revista científica Nature, indicou-se um possível caminho para o diagnóstico precoce da doença de Parkinson a partir de amostras de fezes dos pacientes. Trata-se de exame capaz de detectar a presença de uma proteína sintetizada pelos neurônios presentes no intestino, mais comuns nos pacientes com Parkinson do que os indivíduos sem a doença.

Embora seja um estudo preliminar e que se refere à doença de Parkinson originada no sistema nervoso entérico — grupos de neurônios que se estendem pelo trato gastrointestinal, composto pelo esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso —, que corresponde a cerca de 30% dos casos, essa é uma descoberta promissora no contexto do diagnóstico da doença.

Análise de movimentos captados por trajes usados na indústria audiovisual

Outro estudo publicado pela revista Nature Medicine diz respeito a uma pesquisa que testou trajes usados para captação de movimentos dos atores filme Avatar, monitorando os movimentos de pacientes com sintomas motores.

A tecnologia mapeia e capta os gestos de quem a usa. Com os registros obtidos após ser testada por uma pessoa uma doença motora, os pesquisadores compararam o perfil de movimento com o de pessoas saudáveis.

Embora tenha estudado pacientes com ataxia de Friedreich (FA) e distrofia muscular de Duchenne (DMD), os resultados norteiam a aplicação dos testes dessa tecnologia na detecção de outras condições como a doença de Parkinson.

Tecnologia de baixo custo para detecção de proteína relacionada à doença de Parkinson

A iniciativa brasileira mostrou resultados positivos para um novo sensor de baixo custo para detecção da doença de Parkinson. Fruto da parceria entre Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), um sensor conseguiu identificar, em amostras de sangue, a concentração de uma proteína que pode agir como um biomarcador para a doença de Parkinson, já que os pacientes com a doença apresentam quantidade menor da substância do que pessoas saudáveis.

A ideia dos pesquisadores é de desenvolver um método de diagnóstico precoce que identifique traços da doença ainda em seu estágio latente, antes de manifestar sintomas motores, para que se monitore o paciente para o possível desenvolvimento da doença de Parkinson.

Esses estudos ainda não resultaram em métodos finalizados de diagnóstico da doença de Parkinson, no entanto, mostram o atual potencial tecnológico e científico para inovação nesse contexto. São insights importantes que trazem novas possibilidades para compreensão da doença, além de mostrarem caminhos para outras perspectivas de estudos, somando para aprimorar todos os âmbitos envolvidos na doença de Parkinson.

Como os avanços em diagnóstico podem impactar o tratamento da doença

Frente ao potencial de tanta inovação no âmbito do diagnóstico para a doença de Parkinson, uma dúvida comum é de como eles podem favorecer diretamente aos pacientes.

Embora sejam iniciativas que não possam mudar o curso da doença, ou seja, trazer resultados de cura, as descobertas cada vez mais precoces permitem que as medidas de contenção dos sintomas sejam planejadas e executadas desde o início dos sintomas, favorecendo a qualidade de vida do paciente por mais tempo.

Entender o mecanismo da doença de Parkinson favorece a adesão ao tratamento

Por se tratar de uma doença degenerativa do sistema nervoso central, e que, especificamente neste caso, causa a morte de células que produzem um neurotransmissor importante chamado dopamina, os sintomas atingem as funções diretamente conectadas com elas.

O sintoma mais comum da doença de Parkinson é o do tremor das mãos associado a um movimento involuntário que simula um gesto rotativo dos dedos. No entanto, ela manifesta diversas outras ocorrências como rigidez e lentidão dos movimentos gerais, marcha da caminhada reduzida, dificuldade para engolir alimentos, mudanças na entonação da voz e velocidade de fala, dores musculares, depressão, dificuldade cognitiva e, em casos mais graves, distúrbios respiratórios.

Compreender os diferentes níveis de comprometimento que a doença pode gerar e que variam de pessoa para pessoa, é importante para que ela tenha consciência da importância dos tratamentos propostos e que envolvem diferentes áreas da medicina.

Tratamento tradicional vs. principais procedimentos mais inovadores

Desde sua descoberta há mais de 206 anos, as estratégias terapêuticas para a contenção dos sintomas da doença de Parkinson têm se aprimorado em diversas frentes, visando atender o paciente de forma integrada e sistêmica.

Terapia medicamentosa

O mais tradicional dos métodos dispõe de um rol de medicamentos orais e injetáveis que melhoram as funções motoras, como a toxina botulínica aplicada em músculos enrijecidos, como drogas como a levodopa, e simula a atuação da dopamina no cérebro. No entanto, eles podem causar efeitos colaterais no longo prazo, tornando os distúrbios do movimento ainda piores.

Estimulação Cerebral Profunda (DBS)

Embora os tratamentos mais simples (como medicação) devam ser privilegiados, em algum momento da evolução da doença o paciente a precisará de procedimentos como a Deep Brain Stimulation (DBS), inglês para Estimulação Cerebral Profunda, realizada a partir do implante de eletrodos no cérebro para a promoção da neuromodulação das regiões do cérebro ligadas aos movimentos.

Minimamente invasiva, a cirurgia é realizada com o paciente acordado para que o teste de normalização do movimento possa ser atestado na hora da localização do ponto-alvo do cérebro a ser modulado.

O método tem resultados expressivos com melhora quase total dos tremores em cerca 95% dos pacientes, além de ter o benefício de não provocar lesões estruturais e poder ser totalmente revertido, se necessário.

Importante destacar que para os demais sintomas presentes na doença de Parkinson, a atuação de fisiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos são de grande importância.

 

Mais sobre a doença de Parkinson no podcast Neuro em Dia

Com mais de 30 de atuação como neurocirurgião, tenho amplo conhecimento e experiência na doença de Parkinson, aliando os procedimentos neurocirúrgicos para o tratamento do distúrbio. Por isso, em no podcast Neuro em Dia, dentre outros assuntos, abordo a temática da doença de Parkinson a fim de esclarecer dúvidas comuns e conscientizar os ouvintes.

Essa foi a pauta da primeira edição do programa, o Neuro em Dia #1 — Conhecendo a doença de Parkinson, em que expliquei mais a fundo os aspectos da doença para ampliar sua visibilidade, favorecendo o diagnóstico precoce.

Já no Neuro em Dia #12 — Mitos e verdades sobre Parkinson, esclareço dúvidas e desmistifico informações incorretas que permeiam a temática.

O programa está disponível do Spotify e nas principais plataformas de streaming de áudio.