Doença que atinge os movimentos afeta o cotidiano de 65 mil brasileiros

Em um dia está tudo bem; no outro, seu corpo começa a executar ações involuntárias, complexas e repentinas com os braços, pescoço, tronco, pernas e outros membros, influenciando hábitos simples como escrever, segurar ou manusear objetos, tomar banho e até mesmo comer. Mas o que isso poderia ser? O mês de maio é dedicado a ações que respondem a esta pergunta e atendem uma doença silenciosa, nem sempre conhecida, porém muito comum: a distonia.
Entre os diversos distúrbios neurológicos mapeados pela medicina, este já afeta 65 mil brasileiros e tem como foco de acometimento toda a função motora do paciente, podendo gerar ainda piscadas repetidas dos olhos, tremores e espasmos. É como se os membros parassem de funcionar e responder aos comandos, enquanto o cérebro continua a plenos vapores. É bastante difícil explicar a familiares e amigos que o indivíduo com distonia está lúcido e até então funcional, entretanto perde progressivamente o controle de suas ações.

Uma doença, muitos tipos

O diagnóstico da distonia geralmente não é fácil e assertivo no início dos seus sintomas. Para identificá-la, um neurologista precisa investigar a rotina, alterações no organismo e exames físicos do paciente e, em alguns casos, exames de imagem. As pessoas sabem que algo não vai bem e costumam consultar diversos médicos até obter um retorno mais concreto, que pode demorar em função dos muitos tipos existentes de distonia e da relação de suas manifestações com outras disfunções.
São eles a distonia focal, quando somente uma parte do corpo apresenta os movimentos involuntários, a segmentar, em que duas regiões têm os reflexos automáticos, a multisegmentada, que lesa um lado inteiro do corpo, e a distonia generalizada, acometendo da cabeça aos pés.
Em comum, todos apresentam um aumento do tônus muscular, conhecido também como hipertonia. Com isso, ocorre uma contração repetitiva dos músculos ou a perda total de sua capacidade de relaxamento, gerando crises intensas de dor.

Tratando a distonia

Para tratar a doença é necessário adotar uma frente multifuncional de terapias, visando reabilitar não só os membros afetados como a saúde mental do indivíduo. Por isso, não é raro que a neurologia conte com o suporte da psicoterapia.
Frequentemente vemos quem convive com a distonia também desenvolver problemas psicológicos, a exemplo da depressão e ansiedade. Isso atrapalha ainda mais o progresso do tratamento como um todo, bem como a melhora dos sintomas.
Em casos mais leves, são indicados medicamentos que relaxam a musculatura e diminuem a dor. A toxina botulínica, aplicada com intervalos de 3 em 3 meses, é especialmente recomendada para os casos de distonia focal.
Porém, quando os quadros são generalizados e mais resistentes, a neuroestimulação cerebral profunda vem a ser a técnica ideal para devolver a autonomia dos movimentos. Trata-se de uma cirurgia, feita por meio do implante de eletrodos na cabeça, que atua na modulação dos impulsos elétricos das regiões afetadas pelo distúrbio.
Do inglês Deep Brain Stimulation, o método é minimamente invasivo e não lesiona nenhuma estrutura cerebral. Além de apresentar resultados expressivos, é completamente reversível, caso seja necessário.